Haikai - Carta de Amor ao Homem da Terra do Sol Nascente
Me perdoará
você
de ter beijado as bocas
loucas bocas
que adocicavam meu batom
de garota?
Me amará
você
com o amor com que carregou
meu corpo embrulhado
no pano alinhavado
desde bebê,
aos bebês que tenho carregado?
Me tocará
você
com suas mãos pesadas
com a sombra da curvatura
que segura
os músculos do meu braço?
E ao beijar meu ombro
seu mindinho há de tocar meu
mindinho
mentiu direitinho
tapeou até seu
coraçãozinho
paradoxal sentimento
o homem deseja e prejudica
se ajunta
e negligencia.
Oh,
amor de delgadezas
fortes e
mesas
opulentas
e esporádicas
Se quero-te todo o sempre
não sê por glutonaria.
Se dar-te diminuto
não sê por avareza.
Me guia
Me mostra o caminho da autonomia
Me transforma em independente de ti
Para ter-te todos as vezes que desejaríamos
Reflexão que você me proporciona
enquanto te observo num desses seus múltiplos
infernos astrais.
Há karmas que acumulastes
pelos anos que passamos
por detrás.
E eu depuro
seus apuros
que você mesmo não consegue filtrar
Queria te dizer sobre essas coisas
e te fazer
suavizar.
O tempo é curto
e há muito
você me deu
à cada momento
tudo aquilo
que eu desejei.
Se é para mim
a dor do luto
hei de aprender como viver.
Eu soube ser mimada
por ti
Eu soube absorver o seu amor
Hoje eu vejo as memórias partirem
mas não sem o auxílio do seu ardor
Que é uma memória instantânea,
eu deixo o unguento escorrer
pela pele
Devo ter ficado insana
por não ter investido n'alguma verve
digna de tua presença
para podermos juntos
viver
mas daí,
tão correta que seria,
e a loucura não
me desvairia
para me por
diante do pôr-
-do-sol
junto ao homem
que nasceu na terra
do Sol Nascente.
Com amor,
Thaís Fernanda Ortiz de Moraes
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